Filipa

A vida é feita de escolhas

21/06/2017

Demorei algum tempo a escrever este post…
Só no domingo de manhã quando acordei, e depois de receber mensagens WhatsApp da minha equipa, é que soube do incêndio de Pedrogão Grande. Liguei de imediato a televisão nas notícias e percebi que não se tratava de um incêndio qualquer, mas em vez disso de uma enorme tragédia com contornos não totalmente claros.
A prioridade foi perceber que nutricionistas e pontos de consulta poderiam ter sido afetados e garantir que todos estavam em segurança, o que felizmente se confirmou. Durante o dia fui espreitando as notícias no telefone, mas só quando chegámos a casa depois do fim de semana fora, é que me apercebi a sério da dimensão do que se estava a passar.
De domingo para segunda dormi pessimamente, acordei várias vezes a pensar que poderia ter acontecido a qualquer um de nós, e como segunda-feira ia para o Porto e tinha de passar perto deste cenário, sem saber ao certo o que iria encontrar, fiquei ainda mais ansiosa. Muito fumo pelo caminho e uma sensação que nem sei explicar bem o que era. Estar no sítio errado à hora errada e tomar decisões, sem saber se seriam as corretas. Podia mesmo acontecer a qualquer um de nós e isso é assustador.
Demorei algum tempo a escrever este post… foi preciso encaixar algumas coisas… mas explico-vos porquê. Há quatro ou cinco anos atrás, a caminho de casa, decidi ir por uma estrada que habitualmente não utilizava, pela nacional em vez de pela auto-estrada. Era agosto, tinha regressado de férias, e mais não me lembro. Pouco depois de entrar na nacional vejo fumo e fogo do lado esquerdo, mais à frente vejo pessoas a tentar apagar as chamas, mas sem sucesso porque tinham o dobro ou mais do tamanho delas, em seguida fagulhas e eis que as chamas passam para a direita. Quando me apercebo que estou a entrar numa zona de incêndio, como fogo de um lado e outro, numa zona de mata e algumas árvores, decido travar e fazer inversão de marcha. Mas quando olho pelo espelho retrovisor tenho um carro de bombeiros atrás de mim a travar já a estrada, a tirar as mangueiras e a iniciar a luta contra o fogo. Estava encurralada. Naquele momento tomei a decisão de acelerar a fundo e avançar. Passei por uma coluna de fogo, um calor tremendo, cheguei a pensar que os pneus iam derreter, tal era o calor intenso, mas felizmente, num curto trajeto que pareceu uma eternidade, consegui passar sem que nada me acontecesse. Só aí caí em mim, porque tive finalmente noção do que tinha acabado de acontecer. Ainda hoje continuo a pensar que podia ter corrido muito mal, mas ficar no carro e sair dali a correr sabe Deus para onde, já que não conhecia bem a zona, podia ser ainda pior. Tive sorte, podia ter sido ao contrário.
A vida é feita de escolhas, e muitas daquelas pessoas que morreram, tomaram a decisão que naquele momento lhes pareceu ser a correta. Mais não consigo escrever mas penso todos os dias nos que partiram e nas famílias que cá ficaram. Nos que se viram obrigados a começar tudo do zero, quando a vida já lhes pregou outras partidas. Ninguém está preparado para uma tragédia destas, nem qualquer outra, que descansem em paz. É tocante perceber a solidariedade dos Portugueses num momento destes, a constatação de que somos sem dúvida um povo fantástico.

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