Lembro-me de estar no primeiro ou segundo ano da faculdade e fazer um trabalho sobre “Dietas da moda“. Na altura estava em Dietética porque não tinha conseguido entrar para medicina (sou do ano do 19,1!) e estava longe de saber que o emagrecimento seria a minha principal área de intervenção na nutrição, achava que a área hospitalar, nomeadamente a medicina interna, cirurgia, etc. seriam o meu dia-a-dia. Wrong! Lembro-me vagamente de ter gostado de fazer o trabalho e aprendi imensa coisa, lembro-me de criticar de forma construtiva cada uma delas, mas pensando bem no assunto, há pormenores que são transversais e se mantêm nos dias de hoje. Lembro-me da dieta Atkins, da zone, da sopa, da Sandra Bullok, enfim… de muitas e da maioria delas conseguimos extrair alguma coisa de interessante e aplicável.
Lembro-me de ter decidido avançar para a Nutrição Clínica privada quando percebi que os hospitais de Lisboa e arredores não tinham vagas, que se ganhava “pessimamente” e quando senti que as consultas externas eram um período/atividade do dia que eu gostava bastante. Foi com a frustração de só conseguir acompanhar os doentes de 3 em 3 meses – e tinha sempre de pedir às rececionistas consultas de urgência (caso contrário seria passados pelo menos 6 meses!) -, de não ter resultados fantásticos porque ninguém muda de hábitos alimentares e de estilo de vida só porque sim, que percebi que o acompanhamento próximo era fun-da-men-tal.
Comecei a trabalhar na área da nutrição clínica privada em 2004, primeiro numa Dieta muito conhecida na altura, depois por conta própria no início de 2006, e em setembro desse ano casei-me. Lembro-me de ler o livro de Montignac nesse período e disso ser fundamental para começar a minha apologia pelo tipo de dieta que recomendo atualmente, e o da “South Beach Diet” em inglês no avião daqui para as Maldivas. Terminei esse livro durante a lua de mel e as peças começaram a encaixar verdadeiramente. Foi nesse ano que criei a Dieta 3 Passos e é com ela que me mantenho nos dias de hoje. Já não trabalho sozinha, mas antes numa grande empresa onde tenho uma equipa com mais de 100 dietistas e nutricionistas, um projeto enorme e que hoje em dia é referência no nosso País.
Mas não é disso que vos quero falar… acredito e aconselho uma dieta low carb – leia-se hipoglucídica restritiva, que é por sua vez obrigatoriamente hiperproteica. Uma dieta onde os hidratos de carbono são o principal nutriente a “abater” – temporariamente – mas que tem resultados fantásticos ao nível da perda de peso, diminuição da glicémia, colesterol, pressão arterial, etc., etc. Este tipo de metodologia passou a ser utilizada por alguns dietistas e nutricionistas no início de 2000, com meia dúzia de dietas/programas e afins. A classe de nutricionistas sempre achou esta metologia uma aberração, porque nos ensinam na faculdade que os hidratos de carbono são o principal nutriente a ser considerado numa alimentação saudável, variada e equilibrada. Lembro-me de apresentar estudos que fiz com resultados ótimos ao nível da perda de peso e as perguntas/comentários eram invariavelmente os mesmos “mas as pessoas vão ter fome”, “o cérebro só funciona com açúcar”, “é demasiado restritivo”, “quais as consequências a longo prazo” and so on. O que é certo é que há inúmeros estudos que comprovam a eficácia das dietas com baixo teor de hidratos de carbono – low carb -, que são tidas como a solução mais eficaz ao nível da perda de peso num curto espaço de tempo, e que são seguras! Mas consigo entender que comer uma quantidade limitada de pão ou equivalentes, que restringir a fruta, que substituir os lanches de bolachinhas de água e sal, tortilhas de milho/arroz e fruta por um ovo cozido, rolinhos de fiambre com pepino e outras coisas do género seja estranho. Estranho mas eficaz! 🙂
Adiante porque vocês já estarão a ficar cansadas(os)… agora a moda é sem glúten e sem lactose. É a apologia do vegetarianismo porque comer carne e peixe “é horrível”, digere-se mal, etc. (eu sei que ser vegetariano consiste em não comer alimentos de origem animal – vegan -, mas nalguns casos os vegetarianos eliminam apenas a carne e peixe, mantendo os ovos e lacticínios – ovo-lacto-vegetarianos). É a teoria da inflamação e da distensão abdominal, que faz algum sentido mas que na minha modesta opinião não pode, nem deve ser levada ao extremo. Retirar o glúten diminui a barriga (volume abdominal), para além de diminuir a inflamação celular, responsável tantas vezes por manifestações dérmicas – eczemas -, artrite, alergias diversas respiratórias, doenças autoimunes, etc…
No caso dos lacticínios, as pessoas que não toleram bem a lactose (por deficiência de uma enzima chamada lactase) quando ingerem leite, e por vezes iogurtes e queijo ficam com uma barriga que parece que estão grávidas de 5 meses, para além das náuseas e dores abdominais. Mas há um sem número de pessoas que ingere glúten e lactose e se sente lindamente, não apresentam qualquer manifestação do género, por isso, esta é mais uma razão para não “desatar” a cortar em tudo só porque leram numa revista que a pessoa xpto ficou “curada” quando deixou de comer estes alimentos. Não vos parece um bocado “too much“?
Cada pessoa é uma pessoa, e o que resulta bem para uma pode não ser a solução das restantes. No caso do glúten e da lactose a ideia é experimentar, caso sintam que alguma coisa não está bem, mas aviso que não vai ser fácil, nomeadamente quando se retira o glúten. Comer fora de casa pode ser uma tortura, já para não falar dos jantares com os amigos, o pequeno-almoço e por aí fora. Trigo, cevada e centeio, para além do kamut, espelta, bulgur e aveia contêm glúten. A aveia apesar de não conter glúten, contém glúten por causa de contaminação cruzada, salvo raras exceções e por isso o ideal será lerem o rótulo. Quais os cereais então que se podem comer quando queremos eliminar o glúten? Arroz, milho, quinoa, trigo sarraceno, millet, amaranto e sorgo (aposto que alguns não conheciam 🙂 ). As farinhas de batata, tapioca, amêndoa, avelã e noz são uma hipótese a considerar, mas constituem fontes importantes de hidratos de carbono… Eliminar a lactose é fácil, basta comprar lacticínios sem lactose ou substituir o leite de vaca por soja (não gosto da ideia porque é geneticamente modificada), avelã, amêndoa, arroz ou até aveia.
Acho que nunca fiz um post tão grande por isso vou parar, mas se o tema vos interessar posso desenvolver mais…